sábado, 26 de junho de 2010
Mais de 100 mil pessoas continuam fora de casa e sofrem com abrigos superlotados em Alagoas e Pernambuco
Puplicado:
19:18
Por:
Rodinei Costa
O Globo, GazetaWeb, pe360graus
SÃO PAULO, MACEIÓ, RECIFE - Passados oito dias da tromba d'água, 102 mil pessoas continuam desabrigadas ou desalojadas Alagoas e Pernambuco. Famílias inteiras ainda dormem ao relento, em cima de escombros, por causa da superlotação nos lugares que servem de abrigo nos municípios de Santana do Mundaú e União dos Palmares, em Alagoas, segundo reportagem do site "GazetaWeb". Na noite desta sexta, a família de 'seu' Benedito, com filhos, nora e netos catava no escuro os tijolos que ficaram amontoados, o portão, roupas que estavam entre os destroços.
Segundo ele, desde a manhã de hoje não haviam comido nada. Dez pessoas estavam em um barraco improvisado, apenas com quatro pedaços de pau e uma lona, entre elas uma recém-nascida. A primeira refeição foi levada por bombeiros que, no escuro, passavam de carro, gritando: "Comida, comida, comida", à espera de alguma manifestação.
- Graças a Deus, meu pai, comida minha gente - avisava seu Benedito aos parentes.
As crianças avançaram na comida que deram um jeito de comer com as mãos, pois não havia talheres.
- Não recebemos nenhum apoio até hoje, nem um colchão para dormir. Essas roupas são as únicas que temos - conta Benedito.
Os problemas de saúde começam a surgir. Em Santana do Mundaú, um menino teve de ser removido e levado para o Hospital de Doenças Tropicais (HDT), em Maceió, onde será submetido a exames. Ele está com problemas gastrointestinais e é preciso verificar a possibilidade de cólera. Se for confirmado, será o primeiro caso após a enchente no estado.
- Trata-se de um caso gastrointestinal, ainda não podemos dizer que é cólera - disse o major Edson, do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e que coordena a base hospitalar na cidade.
Pelas ruas, algumas pessoas andam de máscaras. Elas têm medo de ser contagiadas por algum tipo de vírus. Segundo o major Edson, em menos de 24 horas foram mais de 130 atendimentos no hospital de Campanha.
Apenas uma rua teve o fornecimento de energia restabelecido. Homens da Força Nacional desembarcaram ontem na cidade, comandados pelo capitão Romeu, do Rio Grande do Sul.
- Já conhecemos a cidade e pudemos constatar a tragédia. Temos muito que fazer por aqui - assegura o capitão.
Escolas viram refúgio
Em Alagoas, as escolas que não foram destruídas pela enchente foram invadidas e usadas como abrigos por vítimas das enchentes. Pelo menos 69.515 mil pessoas seguem desabrigadas ou desalojadas.
Cerca de 25 escolas foram destruídas ou afetadas pelas águas, segundo a Agência de Notícias de Alagoas. Outras foram saqueadas. No município de Rio Largo, desabrigados invadiram a escola Francisco Leão, levando material de limpeza e de cozinha, além do estoque da merenda que estava na dispensa e ventiladores. As férias escolares foram antecipadas nas cidades atingidas.
A Secretaria de Educação de Alagoas deve pedir ajuda ao Ministério da Educação, pois as águas estragaram material didático, carteiras e outros equipamentos. Parte da documentação dos alunos também foi perdida. - O Estado é responsável pelo envio da frequência dos alunos beneficiados pelo Programa Bolsa Família e, portanto, vamos encontrar saídas para reaver esses dados e possibilitar que as famílias que perderam seus documentos possam receber o benefício - adiantou o secretário de Educação, Rogério Teófilo
Para ele, a parte mais dramática da tragédia, de salvar vidas, já passou.
- Temos agora que arregaçar as mangas, limpar as escolas e reequipá-las. As escolas que não foram atingidas pelas chuvas estão funcionando como ponto de coleta de doações para os desabrigados. Estamos organizando uma central de coleta no prédio sede da secretaria, que passará a funcionar na próxima semana - explicou.
Em União dos Palmares e São José da Laje, as buscas por corpos foram intensificadas com embarcações, mergulhadores e cães farejadores. São 34 os mortos confirmados pela Defesa Civil até agora. Um corpo foi achado em União dos Palmares, mas só será colocado na lista oficial após ser submetido a exames pelo IML. Setenta e seis pessoas continuam desaparecidas e cerca de 6.242 são considerados retirantes - deixaram as áreas alagadas em direção a outras cidadades.
Pernambuco começa a cadastrar as vítimas
Pernambuco começa neste sábado a cadastrar as famílias desabrigadas pelas enchentes e a identificar áreas para a instalação de abrigos provisórios. Cerca de 300 pessoas, entre assistentes sociais e técnicos do governo, vão trabalhar em 22 postos de atendimento nas cidades mais atingidas. No estado, são 82.609 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas.
A Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe) aumentou o número de casas, pontes e estradas destruídas em 67 cidades atingidas pela cheia. De acordo com o último balanço, 14.136 casas moradias. Nas estradas, os estragos foram registrados em 4.478 quilômetros. 142 pontes também foram prejudicadas.
De acordo com a Codecipe, os únicos números que permanecem inalterados, em relação ao último balanço, são os de mortos, com 17 vítimas fatais, e de municípios com decreto de calamidade ou de emergência. Mas o número de mortos pode aumentar, porque a Defesa Civil de Pernambuco ainda não registrou a morte do aposentado na queda de barreira em Maraial. Nove municípios decretaram estado de calamidade pública e outros 30 estão em situação de emergência.
Fonte: O Globo
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